24.5.11




O portinglês

Do Carlos Brickman, na edição de hoje do Observatório da Imprensa:

O portinglês
Winston Churchill, primeiro-ministro britânico na Segunda Guerra Mundial, conta no magnífico Minha Mocidade que, ao entrar na escola de elite em que o haviam matriculado, o professor quis ensinar-lhe a declinação da palavra latina "mensa" - mesa. O vocativo, explicou-lhe o mestre, seria usado se conversasse com uma mesa. O menino Churchill disse-lhe que não pretendia jamais conversar com uma mesa. Na discussão que se seguiu, Churchill acabou deixando a escola. E tomou uma decisão: não se dedicaria aos estudos de latim, nem de grego. Mas iria aperfeiçoar-se em sua língua, o inglês. E como se aperfeiçoou!
Bom, hoje vemos anúncios pedindo jornalistas com pós-graduação, domínio de duas ou três línguas, vivência internacional, e tudo por um salário que não paga nem os cursos. Funciona? Às vezes, funciona. Às vezes, dá coisas desse tipo:
1. "Oficiais da Federação Paulista de Futebol mostram total confiança (...)"
Official, em inglês, é alto funcionário. Em português, tem um monte de significados. E nenhum deles é o utilizado no texto.
2. (O jogador) "foi introduzido à torcida (...)"
Introduced, em inglês, significa "apresentado". "Introduzido" é outra coisa, mas deixa pra lá.

(a ilustração foi idéia minha)



E a música de hoje é o hino do Framengo em ingrêis
Deve ser da autoria de quem fez as traduções citadas acima. 




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16.5.11




Escravidão Voluntária


Trabalho escravo voluntário

Há alguns dias o Luiz Antonio Mello criticou quem está trabalhando de graça, e eu concordo com ele. 
Por falar em trabalhar de graça, que tal digitalizar 2 milhões de livros por ano de graça? 

Está tudo explicadinho neste vídeo: http://youtu.be/cQl6jUjFjp4

E se eu acrescentar que o Go*g*e e os outros envolvidos vão ganhar uma fortuna incalculável com esse trabalho gratuito? 
E se eu acrescentar que essa porra do Captcha nos obriga a fazer esse serviço de graça? Se não fizermos, não nos deixam fazer o tal de "login" em inúmeros locais, publicar alguma coisa em um blogue, publicar alguma coisa no Facebook, etc. Sabiam que isso não é apenas trabalhar de graça? Quando alguém nos obriga a trabalhar de graça, é trabalho escravo! Todas as palavras que os programas de OCR (reconhecimento óptico de caracteres) não conseguem entender são destrinchadas pelos escravos voluntários. 

Como diriam os meus amigos anglos, THE WORLD IS GETTING WORSE BY THE MINUTE! 

Como diriam Kraunus e Pletskaya, "pensan que essa história se estanca por aqui?" Não! O cara criou um tal dehttp://www.duolingo.com, que está prestes a ser inaugurado! Eles pretendem que 100 milhões de pessoas traduzam a web em todas as línguas principais do mundo DE GRAÇA! Com a desculpa de que os escravos vão aprender línguas estrangeiras, de que vai acabar o preconceito contra os pobres, que não podem pagar para aprender línguas estrangeiras, vão traduzir toda a web de graça acreditando que estão aprendendo essas línguas gratuitamente! Ou isso é duplipensar ou eu já não entendo mais nada!

Acontece que essas pessoas que gostam de dar palpite nas traduções, não imaginam, nem de longe, que traduzir não é uma simples consulta ao dicionário. Se fosse, o Google seria perfeito, os tradutores humanos já teriam sido expulsos do mercado, e o mundo inteiro estaria se entendendo às mil maravilhas! Mas não é assim que a banda toca! Essa mania dos leigos de traduzir tudo ao pé da letra, só gera monstrinhos. Por exemplo, pergunte aos anglos se eles entendem "at the foot of the letter" (eles vão lhe perguntar se letra tem pé!). Pergunte se entendem "the cow went to the swamp". Se você disser "the cow went to the swamp" a um gringo, ele vai entender exatamente isto: que uma vaca (de verdade) resolveu dar uma voltinha num brejo e para lá se dirigiu - e vai achar que você deve ser meio doido. Ele não vai nunca imaginar que "a vaca foi pro brejo" quer dizer "danô-se!", ou "ferrou!" ou "tô frito!" (na verdade, traduzir "danô-se" e "tô frito" ao pé da letra não vai dar em nada, pois os dicionários só entendem grafias corretas!) Já está provado que, pelo menos por enquanto, nada substitui o cérebro humano, mas esses nerds não têm a menor noção de teoria da tradução, tadinhos! Eles acham que o mundo inteiro pode ser um território dominado pelas traduções ao pé da letra. Na verdade, sabemos que essa é uma característica dos autistas: para eles tudo tem de ser ao pé da letra! Eles não têm a capacidade de entender metáforas! E também sabemos que um grande número de nerds têm o tal do autismo funcional, também conhecido como síndrome de Asperger. São verdadeiros gênios, mas não fale metáforas perto deles! Certa ocasião, por ingenuidade, sem saber que o rapaz era Asperger, eu disse a uma amiga dele: "Não diga isso perto do fulano que ele me mata!" O cara ficou com ódio de mim, saiu por aí dizendo que eu o estava acusando de assassino! Juro! 

O que não falta é bobo alegre para louvar esse projeto do Von Ahn! Assim como o número de jornalistas é pequeno se comparado à população mundial, o número de tradutores é menor ainda. Então, por que deixar essas minorias ganhar dinheiro pelo suado trabalho? Vamos exterminar essas categorias porque a maioria do povo já é analfabeta funcional mesmo, a qualidade do texto não vai fazer diferença, ninguém entende o que lê. Pra que pagar a tradutores cultos e a jornalistas igualmente cultos se os leitores não sabem a diferença entre texto bom e texto ruim, entre tradução boa e tradução ruim? Amostra disso é o número de oligofrênicos que acham "legal" essa extinção de profissões que sempre deram uma contribuição inestimável à cultura mundial. O mais bacana é nivelar por baixo, transformar o mundo inteiro naquele mundo do filme Idiocracia (recomendo o filme!).

Infelizmente o vídeo de conteúdo infame e escravagista, orwelliano, está em inglês, portanto quem não entende inglês falado não vai entender nada. Lamento. Mas tenho uma boa notícia para quem gosta de piadas: lá no local do vídeo, clique em cc (está dentro de um quadradinho vermelho), em "traduzir legendas" e, na lista de idiomas, escolha inglês>português. Você não vai pagar nada pela sessão de "comédia em pé" que vai ver! E divirta-se!

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