Eu queria que os tradutores finalmente assumissem o papel de formadores de opinião e criadores de tendências lingüísticas; que parassem de se esconder atrás de desculpas esfarrapadas para macaquear o idioma de origem - no Brasil, em mais de 90% dos casos, o inglês - e vestissem a camisa da profissão que escolheram.
A parte mais difícil é assumir. Nós, tradutores, sofremos de uma doença parecida com o alcoolismo. O alcoólatra, na maioria dos casos, morre sem assumir a doença, sem admitir que é alcoólatra, sem admitir que é o responsável pela desestruturação da família. A tradução gera um vício semelhante: o tradutor morre sem admitir que é responsável pelo estado lastimável em que se encontra a língua portuguesa. Precisamos bolar um método de 12 passos para tentar controlar esse vício.
Que 2007 seja o ano que em os tradutores perderão a insegurança boba e resolvam se assumir como profissionais de verdade, que deixem de rastejar aos pés dos clientes. Que se imponham.
Que demonstrem a necessidade de saber traduzir, e não de apenas saber um ou outro idioma, ou ambos.
Que ensinem aos clientes a diferença que existe entre "eu faria isso, mas não tenho tempo" e passar anos e anos à procura de
le mot juste. Quem "faria isso", mas "não tem tempo", sempre faria uma tradução canhestra, cheia de cacoetes, decalques, falsos cognatos, erros crassos que o profissional procuraria evitar. Ninguém é infalível, todos erramos, mas é óbvio que o profissional preparado erra muito menos do que o fulano que passou dez anos nos EUA (fazendo o quê? lavando pratos? lavar pratos virou faculdade de tradução?) e costuma dizer "eu faria isso, mas não tenho tempo" só para desmerecer, desvalorizar o trabalho do tradutor profissional. O "faria isso, mas não tenho tempo" é o prenúncio da pechincha, é o intróito da velha ladainha "está caro demais, o fulano de tal cobra 1/10 disso". Vamos perder a insegurança e responder "então entregue o serviço ao fulano!" Garanto que o "faria isso mas não tenho tempo" um dia, cedo ou tarde, vai se arrepender e voltar contrito.
Pero sin perder la ternura.
Desejo, então, um feliz 2007 à profissão que mais se desvalorizou e aos profissionais que mais perderam a auto-estima nos últimos vinte anos.
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