5.5.07




Anglicismo semântico du jour - 5/5/2007

A influência de search for sobre o verbo buscar resultou num aleijão feiíssimo: buscar por. De poucos anos para cá, mais precisamente depois da invenção dos "search engines" na Internet, os brasileiros, despreparados para as novidades e - há muito tempo - sem conhecimentos suficientes do vernáculo, além de sofrer as conseqüências da velha tradição brasileira que acha feio consultar o dicionário, resolveram que o verbo buscar precisa da preposição por só porque o search precisa de for. Tenho, porém, uma péssima notícia para os macaquitos: o verbo buscar não precisa desse por, que, além do mais, é muito feio!

Essa mania ridícula de enfiar preposições inglesas onde não existem está transformando uma das mais belas e ricas línguas em arremedo horroroso do inglês. Enfiar por onde não existe dá dor de ouvido! Quando ouço na TV os colonizadinhos (Jô Soares, por exemplo) americanizando o português, além de sentir dor de ouvido ainda fico com o estômago revoltado.

Vejamos o que diz o dicionário de regência verbal:

BUS.CAR

v.t. 1. Procurar. 2. Investigar; pesquisar. 3. Examinar; revistar. 4. Tratar de obter; tentar. 5. Ambicionar; cobiçar.

REGÊNCIA VERBAL

BUSCAR

TD(I): buscá-lo (em, entre…). Tratar de adquirir, obter, conseguir; tratar de achar, descobrir ou encontrar: "Quem busca trabalho tem comida no borralho" (Provérbio). "Não busques o pão no focinho do cão" (Provérbio). Busquei-o entre os colegas e não (o) achei.

Tratar de trazer ou levar: Manda buscar os livros.

Dirigir-se para: Os rios buscam o mar.

Procurar conhecer; investigar, pesquisar: Buscar a causa de certos fenômenos.

Revistar, esquadrinhar: Buscou a casa toda.

Empenhar-se em, esforçar-se por, procurar: "Buscamos resolver o problema" (Jucá).

Recorrer a, procurar: Buscou a ajuda dos amigos.

Imaginar, idear (maneiras, saídas, etc.); inventar (pretextos, desculpas).

(Dicionário Eletrônico Luft, Editora Ática)

Digam-me, depois de ler o verbete acima, de onde saiu essa praga do buscar por? Exatamente do search for. E os tradutores improvisados que nunca traduziram search for por buscar por, dêem um passo à frente. Como? Ninguém deu um passo à frente? Todos já macaquearam o search for impunemente? E qual é a desculpa? Preguiça mental? Ignorância? Falta de dicionário para consultar?

O excesso de leitura de textos em inglês ou mal traduzidos em português (mais de 90% do que se lê na Internet) ou na literatura de quinta e na imprensa acaba levando aqueles que não conhecem a boa literatura a imitar o que lêem. Num país onde, não sei por que, criaram o tal mito de que é feio consultar dicionários e enciclopédias, também é feio ler bons livros, pois o bom português se tornou constrangedor neste país de analfabetos funcionais.

O pior disso tudo é a agressividade dos que recebem um toque a respeito dessas regências canhestras, que estão transformando a nossa língua em arremedo do inglês. O português e o inglês têm DNA diferente, provêm de troncos distintos e cada uma tem lógica própria, bem diferente da lógica da outra. Forçar a índole do português a ser igual à do inglês é o mesmo que obrigar vacas a voar.

Os colonizadinhos não vêem nada de errado em forçar a barra das regências verbais e impor a elas as regências inglesas, o que dá origem a esses monstrengos como buscar por e todas as outras regências forçadas e feias. Mas esses mesmos tradutores acham muito natural que um verbo transitivo indireto em português (por exemplo, gostar – regência: gostar de) se torne transitivo direto em inglês (like – não existe "to like of"). Será que alguém saberia dizer qual é o motivo dessa lógica perneta? Quando vertem para o inglês os brasileiros se esforçam por não errar na regência, mas quando traduzem do inglês para o português impõem ao português a regência inglesa. Insisto na pergunta: Por que os brasileiros não dizem I like of you? Se não fazem isso, por que dizem buscar por? Dois pesos e duas medidas?

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