Tudo em excesso mata
Quem diz que a dose excessiva de inglês não é letal deve achar bonito abrir o caderno de informática do Estadão e ver:
Cuidados devem ser tomados ao desinstalar programas do Windows.
Tem gosto pra tudo! Pode ser que exista gente aí achando bonito e idiomático o enunciado acima. Pois eu acho um horror! Pelo menos a história de Asterix entre os gauleses é engraçadinha. Já um título de matéria jornalística tão horroroso só dá vontade de fechar o jornal e nunca mais voltar a ler. O jornal é brasileiro e a matéria está na seção "Falha Geral", em resposta à carta de um leitor. Era de se esperar que essa resposta fosse escrita em português, pois não? É por aí que vemos um buraco muito mais embaixo do que o simples zelo pelo léxico e pela gramática. O enunciado acima não tem erro ortográfico nem gramatical. Mas parece o Tarzan falando com a Chita! A frase, ao passar por máquina de tradução, vai redondinha para o inglês, bem certinha e bonitinha.
É claro que preciso admitir que não pode haver lei no mundo que acabe com situações como essa, cada vez mais comuns. Estamos os brasileiros escrevendo em formato de máquina de tradução, remando contra a índole da língua, tudo isso em conseqüência da intoxicação de inglês em todos os veículos de comunicação de massa. O que fazer?
Não sou xenófoba e acho que a influência do jazz foi uma maravilha, pois gerou um filhote chamado bossa-nova, que invadiu o mundo inteiro com o nome original: ninguém conseguiu traduzir. Existem tantas palavras intraduzíveis! O livro "Palavras sem Fronteiras" é um verdadeiro tijolaço! Além disso, pela aberração que vemos acima, que já virou praga, dá para perceber que o problema é muito mais grave do que a simples importação de palavras. Posso muito bem usar uma ou outra
palavra estrangeira e ainda assim falar português (quem aqui não gosta de comer um quibe ou um sushi de vez em quando?). Deixo de falar português quando começo a usar palavras do léxico português e amontoá-las em construções esquisitas, desajeitadas, estranhas. É exatamente o mesmo que escrever "I like of you". Usei palavras em inglês, não usei?
Mas "I like of you" é inglês? Gimme a breeeeeak! (Me dá um breque?) Os brasileiros estão escrevendo com sotaque de gringo! Que nome dar a isso? Complexo de inferioridade? Exílio dentro de casa? Burrice?
Labels: "anglicismo sintático", anglicismo semântico, decalcomania, decalque, language, lingüística, tradução, translation
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