29.4.10




Google Translation Toolkit II - A Missão

A d. Irina fez a seguinte pergunta: 

Jussara, poderia explicar melhor, pois quando corrige o que GTT escreveu, mas na sua tradução, digo no seu arquivo, não no próprio GTT. Então como ele pode "roubar" o seu trabalho? Quando o seu trabalho é postado em algum site, ou blog, é isso? Mas a partir do momento que você publica algo na internet, ele se torna público, do contrário não haveria pesquisa pelo Google..... You cannot have a cake and eat it at the same time.

Há mais de uma maneira de fazer isso, d. Irina. Uma delas é a entrega de bandeja do texto original. Duvido muito que todos os textos destinados à tradução sejam publicados na Internet. Se o texto a ser traduzido tiver como destino a publicação na Internet, nada se perdeu, mas garanto que o proprietário de textos que não gostaria de vê-los na internet não ficaria feliz por saber que o tradutor usou o GTT ou qualquer outra máquina de tradução automática pretensamente gratuita da Internet. A senhora pode até não editar a tradução no GTT, mas ao usar a máquina de tradução para copiar a tradução no seu arquivo já entregou o original, não é mesmo? Afinal de contas, a máquina de tradução não tem como adivinhar o original. Quem consulta o GT ou o GTT precisa ali digitar, colar ou enviar o arquivo do texto original. É aí que o tradutor entrega o que não é dele: o texto original do cliente! 

Para ilustrar o que digo: quando corrijo testes de tradução, costumo consultar o GT para ver se o candidato colou. Já vi traduções muito boas de diversos textos de testes aplicados por agências aos candidatos a tradutores. E já vi testes idênticos entre si e idênticos a traduções presentes no GT; e outras agências também devem estar recebendo traduções idênticas. Se isso acontece com testes, o que não farão esses mesmos tradutores quando receberem os textos dos clientes? 

Estou apressada e vou deixar em aberto, entregue à criatividade dos leitores, os outros usos que podem ser desvantajosos para os clientes pagantes e para o bolso dos tradutores. 

É ingenuidade acreditar que o GTT e o GT são inócuos. Repito aqui o que já disse em outra ocasião: "There's no free lunch". Ou, em português castiço, "Tudo tem seu preço". Essa história de "gratuidade" é conversa para boi dormir, é preciso agir como o pobre e desconfiar das grandes esmolas!


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O espaço destinado às músicas que tenham algo a ver com o que digo, a música de hoje, de autoria do Getúlio Cortes, mostra um mal-entendido lingüístico: 







Que foi que ele roubou? Que foi que ele fez?
Os brotos responderam todos de uma vez:
Roubou um coração e tem que devolver
Senão o sol quadrado ele vai ver nascer

Não vou nessa história acreditar
Não pode um coração alguém roubar
Enquanto eu falava, o homem sumiu
Descendo pela rua ele escapuliu

De repente, então, tudo mudou
E a turma toda contra mim virou
Correndo descobri que o tal coração
Era uma jóia pendurada num cordão


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18.4.10




Tamancos nas engrenagens do Google Translate

Já vi diversos casos de sabotagem das traduções do Google. Há pessoas, como o colega João Lucas, que reagiram com ceticismo ao que eu disse, então resolvi explicar melhor. E, como sei que ele não é o único cético, resolvi trazer para o blogue a resposta que acabo de enviar a ele numa lista de tradutores do Yahoo.
Eis a resposta (aproveitei para fazer uma revisãozinha básica, mas nada que alterasse o sentido):

Não, João, você entendeu mal, as traduções vêm sendo sabotadas por pessoas que usam, por exemplo, o Google Translate, e têm tempo e maldade suficientes para insistir muito na "sugestão" de tradução "melhor". 
A "máquina" do Google é estatística, portanto, se houver um número X de sugestões de tradução "melhor", o Google adota. Quem consegue adulterar o sentido das traduções são, portanto, pessoas muito mal-intencionadas, que querem arranjar confusão entre os ingênuos que acreditam na eficácia dessas traduções de máquina. Existem grupos políticos interessados nesses mal-entendidos, grupos grandes, que conseguem "convencer" a máquina do Google por serem numerosos. Já vi denúncias de textos políticos traduzidos do árabe p/o hebraico e vice-versa sabotados, que ganharam sentido contrário ao original. Já vi isso em traduções do inglês p/o português também. E o número só aumenta, não diminui.

Nunca usei máquina de tradução p/conversar com gente de língua que eu não entenda. Na verdade, nunca usei máquina de tradução p/conversar com ninguém, mas quantas pessoas você conhece não acham "mó legal" poder conversar com um russo que não sabe inglês nem português, por exemplo? Com essas sabotagens, de repente o seu "amigo" russo fica com raiva de você, mas você não sabe por quê, não é? O motivo pode muito bem ser o fato de você ter ofendido o seu amigo sem querer.

Como se não bastassem as traduções que já são erradíssimas, mesmo sem sabotagem, não é mesmo? Semana passada fui obrigada a acrescentar um "disclaimer" ao título do meu blogue, pois o inocente "nego" da pergunta "Google Translator Kit, qual é a tua, nego?" virou "nigga" na tradução automática. Se eu fosse traduzir aquele "qual é a tua, nego?", a palavra "nego" seria "dude", mas o Google não está interessado na paz, eles quer mais é guerra. Um tradutor americano, cheio de boas intenções, ficou com o ** na mão e cortou o "nego" do meu texto quando fez a "syndication". Fiquei furiosa. Se ele tivesse qualquer outra profissão, tudo bem, mas o sujeito se diz tradutor e faz uma burrice dessas sem nem me consultar? Não lhe passou pela cabeça que "nego" pudesse ser outra coisa? Aí caiu a ficha, imaginei que, se um falou, quantos estariam calados, imaginando que eu sou racista e estou chamando o Google de nigga? (Até agora não consegui ver sentido nesse tipo de raciocínio, mas tem raciocínio idiota pra tudo neste mundo, né?) Para atribuir raça a uma máquina de tradução é preciso estar com a cabeça muito voltada para o mal, não é mesmo?

As máquinas de tradução ainda vão demorar alguns anos transformando a nossa linguagem coloquial. Daqui a alguns anos pode ser que não existam mais metáforas em língua nenhuma, pois a falta de ensino nas escolas faz com que os jovens só tenham a internet para se educar e aprender o vernáculo. Leia 1984 para entender isso melhor. O princípio da tradução automática está ali definido (não só ali, mas 1984 é a mais famosa obra de divulgação da deturpação artificial da linguagem).

Quanto a "virar" revisores de tradução de máquina, muitos de nós já viramos há bastante tempo. O número enorme de textos que vêm sendo traduzidos por máquina e revisados o mais rápido possível, em muitos casos mal e porcamente, é uma coisa que a nossa vã filosofia está longe de conseguir calcular. Eu mesma já faço isso há algum tempo e garanto que é mais fácil do que revisar traduções incoerentes feitas por gente incapaz.


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25.3.10




Google Translation Toolkit - Qual é a tua, nego?

My dear readers, your ATTENTION, please! Do not even think of trying to translate this post into English using unassisted MT (MACHINE TRANSLATION)! The word "nego" in the title ('Qual é a tua, nego?') CANNOT, SHOULD NOT, MUST NOT be translated into English as "nigga" or anything similar. If you do that, be advised: I'll not be responsible for your stupid translation machine gross errors because it does not take Brazilian culture into account. 




Vamos raciocinar juntos? Pra quem não conhece o Google Translation Toolkit (GTT) é assim:

A gente pega um texto em qualquer língua, leva pro GTT, que traduz tudinho "daquele jeito" (no meu caso, do inglês para o português).
Vamos relendo, segmento por segmento, e corrigindo tudo o que está esquisito (no meu caso, mais de 80% do texto).
Com isso, consertamos o nosso texto, que será entregue ao cliente, mas - ao mesmo tempo - deixamos de graça para o Google todo o aprimoramento que fizemos na tradução dele.
O Google pega o nosso aprimoramento e usa, sem pagar nada.
Eu e o cliente, por conseguinte, fomos lesados! Eu fui lesada porque trabalhei de graça para o Google aprimorar a maquininha dele e o meu cliente foi lesado porque a tradução que ele pagou para que eu fizesse foi entregue de graça ao Google.
Como dizia o saudoso Lilico, "É bonito isso?"

E tem gente querendo me convencer de que o GTT é a oitava maravilha do mundo! Só pra quem gosta de trabalhar de graça! Pra esse bando de gente que traduziu a interface do Facebook, que está traduzindo a interface do Linked-in e do Twitter, por exemplo. São empresas milionárias, mas mendigam na hora de traduzir o site. Acordem aí, colegas!

Será que dá para descer ainda mais? Será que o rebaixamento do ofício do tradutor consegue cair abaixo de zero? Acho que consegue, sim, pois já me disseram que determinada empresa de tradução está exigindo que os tradutores PAGUEM para trabalhar para ela.

Repito: É bonito isso?

Tenho mais a dizer sobre isso, mas, por ora vou esperar comentários, para ver se vale a pena continuar a escrever sobre este empolgante assunto.

Colegas: não se deixem enganar! Trabalhar de graça para uma empresa bilionária como o Google é tiro no pé!

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