31.12.07




Feliz Ano Novo! Sempre com o pé direito!

Lá embaixo, depois das artelhices e pentelhices, os meus amados leitores encontrarão a saudação de ano novo. Basta ter um pouquinho de paciência para ler um texto meio compridinho.

Sou do tempo em que, no curso primário, a gente aprendia os nomes de todos os ossos e ossinhos do corpo nas aulas de ciências.

Naquele tempo o meu pai tinha o hábito de tomar o ponto. Era o ponto alto do dia! Deve ter jovem aqui se perguntando que diacho é esse negócio de tomar o ponto. É, isso é coisa de velho mesmo, é do tempo em que a gente ia para a escola pura e simplesmente para estudar, as escolas ainda não tinham virado refeitório.

Pois é, falávamos de tomar o ponto. Tomar o ponto era fazer perguntas a respeito da lição daquele dia. A gente treinava em casa porque a professora tomaria o ponto na aula seguinte. Podem falar o que quiserem da didática daquele tempo, mas eu adorava recitar as respostas e muitas delas nunca mais esqueci.

Dentre as coisas que aprendi naquela época estão os nomes dos ossos das mãos e dos pés (na verdade, são regiões, cheias de ossinhos menores), que a gente recitava nas provas orais (hoje extintas):

Carpo, metacarpo e dedos

Tarso, metatarso e artelhos

Os dedos e os artelhos se dividiam em falange, falanginha (hoje falange medial) e falangeta (hoje falange distal). E eu me perguntava o que os anjos tinham a ver com os dedos. Como podiam caber tantos anjos dentro de ossinhos tão pequenos? Mais um mistério da angelologia.

Agora parece que inverteram o mapa do e os artelhos se mudaram para o outro lado. Sei , entende? Em 50 anos muita coisa pode mudar e sabemos que recentemente andaram fazendo umas mudanças na nomenclatura anatômica. Não me conformo com algumas delas, não gosto de chamar o ouvido de orelha, mas quem sou eu para me opor? Se as traduções médicas eram terra incognita para mim antes da reforma, hoje em dia caio nessas ciladas quando, por puro azar, aparece algum trechinho que fale de casos médicos no meio de algum livro que eu esteja traduzindo, como aconteceu em um que terminei recentemente. Era um livro de economia comportamental (enrolaç... opa! ciência nova) e, pelas tantas, o cara começou a contar um caso de cirurgia artroscópica, é mole?

Pior ainda foi o livro do Bruce Lee, que me obrigou a comprar a Terminologia Anatômica da SBA para poder traduzir aquela infinidade de músculos que o nosso ídolo trabalhava (e pedi à editora que contratasse um revisor técnico experiente). Mas, no livro do Bruce Lee, que bem me lembre, ainda não tinham invertido o e acredito que os artelhos do astro ainda estivessem na parte da frente, e não atrás dele. Mas não está aqui quem vai discutir a respeito da posição anatômica dos artelhos. Além do mais, todos sabemos que os artelhos do Caipora sempre ficaram atrás - ou na frente? Aí depende, né? Eram dedos ou articulações? Pelo que pude entender da complicação toda, os artelhos que ficam atrás do pé não são ossos, são articulações, o que já são outros 500 merréis e não pretendo perder tempo com isso aqui.

E, que me lembrei da Terminologia anatômica, eis a página que contém a lista de ossos dos pés. Ao que tudo indica, depois de se mudarem, os artelhos sumiram. Ou será que nunca estiveram ali? Quem sabe seriam ossos do do ouvido? Ou do de anjo? Do na tábua? sei, o artelho se mudou quando ficou com o atrás. Ou, sei , um belo dia acordou com o esquerdo, pegou a trouxa e deu no pé. Deve ter sido fácil carregar a trouxa dele, que estava quase vazia, e ele a carregou com um nas costas.

Também procurei nas articulações do , mas não encontrei a palavra artelho. O artelho morreu! Viva o artelho! Fazer o que, ? Eu é que não me meto nessa história nem vou teimar que o artelho seja aqui ou ali. Na pior das hipóteses, o artelho é primo-irmão do pentelho. Pelo menos rima.

De resto, chegada a hora de dar um na bunda de 2007, desejo que entremos todos com o direito e de quente em 2008! Que nenhum de nós caia na tentação de traduzir sempre ao da letra; que não tenhamos medo de bater o quando os clientes quiserem meter os pés pelas mãos e enfiar o nariz (Hein? Mas não estávamos falando dos pés?) onde não devem; temos de fincar pé!

Que 2008 seja o ano de consolidar o nosso de meia e que possamos, definitivamente, tirar o do lodo. Que os nossos sonhos se realizem, mas que continuemos sempre de no chão, porque 2008 é um ano que vai dar ! E se a gente tropeçar, escorregar, que sempre caia de !

Que 2008 nos espere de portas abertas, que não precisemos de de cabra para abri-las e, principalmente, que ninguém enfie o na jaca para poder ficar de quando amanhecer o primeiro dia do novo ano. Que a festa do reveillón seja animadíssima para que possamos exibir nossos dotes de pé-de-valsa.

Enfim, juro de pés juntos que desejo a todos vocês mil vezes tudo o que me desejaram em todos os anos anteriores e um milhão de vezes tudo o que vierem a me desejar daqui para a frente!

2007 está com o no estribo e 2008 vem chegando ante . Que a permanência do nascituro seja sempre suave, tranqüila e repleta de saúde! Muita saúde para aturar os clientes no saco, os que pegam no e os frio! Que estejamos sempre à altura dos serviços que aceitamos fazer e possamos fazê-los com um nas costas!

Feliz 2008!

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21.12.07




Decalcomania du Jour - ou O Maldito "por" Parte III

É interessante essa mania que o ser humano tem de copiar erros por acreditar que não sejam erros, só porque foram usados por gente de certo renome.

Quem acompanha as listas de tradutores na internet como eu, desde 1995, se tiver boa memória e for uma pessoa observadora, perceberá que, ainda na década de 1990, praticamente todos os tradutores usavam a preposição correta para atribuir autoria: de.

O maldito "por" antes do nome do autor anda se espalhando ultimamente que nem praga de gafanhoto e me surpreende perceber tradutores que não o usavam e até diziam que não se deixariam contaminar por tamanho despropósito lingüístico estarem hoje usando esse maldito "por" a torto e a direito.

Quando questionados, alguns se ofendem e afirmam categoricamente que sempre usaram esse maldito por e que isso sempre foi assim. Como dizem os anglos: Big Brother at his best! Oh, well. Não citarei nomes, é claro, noblesse oblige.

É doloroso ler em textos de pessoas que se declaram mestres e doutores o maldito "por" antes do nome do autor de livros, de palestras, de cursos etc. etc. etc. Que belo exemplo dão aos alunos!

E, com isso, agora está se tornando comum essa macaquice nos textos escritos por tradutores, que, cada vez mais, se aproximam dos textos produzidos por máquinas de tradução. A profecia do Josh Wallace, "translate beautifully or be replaced by a machine" (lantra, 1997) se realiza com mais força dia após dia. É lastimável.

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2.12.07




Decalcomania Du Jour

Tenho visto por aí a mania generalizada de fazer decalque do inglês em coisas que, em português, ficam com o signifcado oposto ao que teriam se em inglês estivessem.
Os neurônios dos brasileiros que fazem isso já foram devorados pelas leituras de inglês e de decalques.
Exemplo: Eu não poderia concordar mais. Em português, isso SEMPRE quis dizer que a pessoa um dia concordou e agora parou de concordar em razão de algum impedimento. Os autores dessas frases em português pretendem fazer decalque do inglês I couldn't agree more, mas pouco sabem tanto de inglês quanto de português. Caso soubessem, fariam a devida modificação que transformasse o I couldn't agree more em frase de teor semelhante em português. Em geral, o lusófono que não fosse decalcomaníaco, diria Concordo plenamente ou frases parecidas, de acordo com a tradição e a índole do vernáculo.

Cuidado com o decalque irrefletido, minha gente!

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