21.5.07




Apes will be apes - O maldito POR

Texto que escrevi em 24 de janeiro de 1999:

O que será que está levando à troca de "de" por "por"? Será que a mania ridícula de achar chique copiar a língua inglesa já extinguiu os últimos resquícios de raciocínio que ainda restavam ao povo brasileiro?

Qualquer texto escrito por alguém é de autoria de alguém, e não de autoria por alguém.

Por precede o agente da passiva (em um de seus usos), mas não é da índole da nossa língua a elipse do verbo no particípio passado nesses casos de voz passiva. Quando se usa o por na assinatura de um texto, o significado é o de substituição. Quando vejo um texto com um por fulano de tal logo abaixo do título, ou no final, o que me vem à cabeça é a substituição, ou seja, por fulano de tal significa que alguém escreveu NO LUGAR DE fulano de tal. Como o nome desse alguém não aparece nunca, tenho a impressão de que o ramo dos escritores-fantasmas está prosperando que é um horror!

Vejamos alguns exemplos encontrados ao acaso na Internet:

Lista Informativa MEUPOVO: Analise do IE4 - por B.Piropo

Uma nova Idade Média? POR MARCELO BAUER

E o que mais está me dando nos nervos é o slogan do canal Mundo: Somente por Mundo. Qual será o canal que está entrando no ar no lugar do canal Mundo?

Nos dois primeiros casos, a impressão que tenho é de que um anônimo escreveu no lugar do B. Piropo e do Marcelo Bauer. Por que eles não revelam quem escreveu realmente?

Quando uma pessoa assina um documento no lugar de outra escreve "por fulano de tal". A idéia que transmite um "por fulano de tal" é exatamente a de substituição.
Em inglês é comum haver a elipse do verbo. Usa-se "The old man and the sea, by Hemingway", omitindo-se o "written" antes do "by". Mas isso é possível simplesmente porque "by" não tem a multiplicidade de funções que o "por" tem em português.

Quando uma pessoa escreve no lugar de outra é incorreto usar "by" em inglês. Mas a turma está estudando inglês demais e português de menos.

Em conversa recente com a Lia Wyler, eu a ouvi dizer, com toda razão, "É a preposição que situa o indivíduo no mundo. Quando se troca a preposição, o leitor perde o referencial, o texto fica confuso, ambíguo, dá margem às mais diversas interpretações". E é o que está acontecendo. Não foi só a política econômica que perdeu o rumo, foi todo o raciocínio; ninguém mais pensa neste país.

O que vemos hoje em dia, entre redatores, escritores, jornalistas, tradutores etc. é a mania de decorar as preposições inglesas e esquecer que existem preposições em português. Ninguém quer errar as preposições quando escreve em inglês, mas ninguém dá a mínima para o uso das preposições em português. Já estão invertendo o sentido de vários verbos, só para tornar o português parecido com o inglês.

Vamos sair da bolha, gente! Vamos conversar com as pessoas em português, de preferência com pessoas que não vivam com a cartilha do inglês na mão, para voltar a falar e escrever português!

Enquanto estávamos no terreno da simples adoção de palavras estrangeiras, ainda dava para engolir. Mas não dá para engolir a distorção do sentido. Quando se usa o verbo "emprestar", atualmente, já não dá mais para saber quem emprestou, pois estão trocando o sentido do verbo. Tudo isso por uma falta de conhecimentos mais aprofundados a respeito das preposições inglesas e, principalmente, das portuguesas. Estão decorando um sentido -- e somente um -- para cada preposição inglesa e acham que é só traduzir "by" como "por", "from" como "de" e "for" como "para". Ninguém se toca que "for", por exemplo, em inúmeros casos significa "de", que "by" precisa ser traduzido como "de" quando há elipse do verbo na passiva, que "from" pode ser traduzido de diversas formas também. É o império da "cultura de sobrevôo".

Há alguns dias vi em uma revista um artigo traduzido por mim e lá estava "tradução por Jussara Simões". Nem elipse houve. A coisa ficou escancarada. Escrevi ao editor da revista e pedi, implorei, que ele trocasse aquilo por "tradução de Jussara Simões" ou "traduzido por Jussara Simões". Caso ele não quisesse trocar, pedi que retirasse o meu nome daquele artigo. Felizmente ele compreendeu e trocou por "tradução de". Ainda resta esperança?

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Frase du Jour - 21/5/2007

Language is the blood of the soul into which thoughts run and out of which they grow.

(Oliver Wendell Holmes - 1841- 1935)

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20.5.07




Artigo publicado no jornal português O Primeiro de Janeiro

A tradução tem muitas toupeiras

Se, por um lado, os tradutores são mal pagos, não há uma lei que assegure os seus direitos e os contratos de tradução favorecem normalmente as editoras. Por outro, não são as editoras e o mercado os únicos culpados pelo emaranhado de confusões em que vive a tradução em Portugal.
Goreti Teixeira

Em Dia Mundial do Livro, o JANEIRO decidiu analisar como está a questão da tradução e dos tradutores em Portugal. Assim, falar em tradução pressupõe, desde logo, uma distinção. Existe a tradução escrita e oral, a interpretação, e dentro da escrita esta subdivide-se em literária, científica e técnica. No entanto, em Portugal, esta divisão parece não existir e a situação agrava-se quando lhe juntamos os tradutores. Aliás, são eles o fio condutor deste trabalho que pretende dar a conhecer um pouco da realidade do mercado da tradução em Portugal. Se, inicialmente, a abordagem ao tema incidiria no trabalho literário desenvolvido pelos tradutores António Pescada e José Colaço Barreiros, as críticas feitas por ambos levaram a posteriores contactos. Para trás ficaram questões como: Quais são as maiores dificuldades quando se inicia uma tradução? Que condições precisam estar reunidas para que se faça um bom trabalho? Em que línguas trabalham habitualmente? Já existiu algum texto que tenha resistido às tentativas de tradução? Ao de cima vieram questões mais problemáticas como o mau pagamento, a falta de uma lei que proteja os direitos dos tradutores, os contratos que favorecem maioritariamente as editoras, a não regulamentação da profissão de tradutor (e de intérprete) ajuramentado e a precariedade do ensino nesta área. Na tentativa de saber qual a situação dos tradutores e da tradução em Portugal conversámos com Francisco José Magalhães, autor do estudo sociológico «Da Tradução Profissional em Portugal». Para o presidente da Associação Portuguesa de Tradutores, o cenário “não é unilateral” e, portanto, deve ser analisada em várias vertentes. Do ponto de vista dos tradutores, faz o ponto da situação afirmando que, “são mal pagos, não há uma lei que proteja os seus direitos, as editoras recusam-se a assinar os contrato tipo da Sociedade Portuguesa de Autores ou o da APT. Também existe a confusão de considerar tradução literária tudo o que é publicado”.

Contratos
Sobre o mau pagamento, Francisco José Magalhães revela que, no caso da tradução literária, “há editoras que não pagam, porque não celebram contratos e quando o fazem o tradutor perde todos os seus direitos”, admitindo, no entanto, que existem editores que “pagam relativamente bem aos tradutores mais conhecidos do mercado”. Já em matéria de protecção afirma que, para os tradutores, “é melhor não assinar contrato, porque em caso de conflito acabam por estar protegidos pelo Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, a lei nacional”. Mas caso assinem, o que acontece, é que os contratos apresentados não são o designado contrato tipo existente na Sociedade Portuguesa de Autores ou na APT que se distinguem pela neutralidade e no qual uma das partes não pode ter todas as vantagens da negociação, como nos contratos elaborados pelas editoras. A realidade é bem diferente e, normalmente, os documentos celebrados entre editores e tradutores implicam, “a cedência de todos os direitos por parte do tradutor, o pagamento fica abaixo do que é possível no mercado, os prazos de entrega são muitas vezes surrealistas e comportam penalizações financeiras caso estes não sejam cumpridos”, explica.

Confusão do mercado
A tradução escrita engloba a literária, a científica e a técnica. No entanto, esta subdivisão gera confusão no seio do mercado da tradução, em Portugal. Francisco José Magalhães acusa mesmo os editores de meterem tudo no mesmo saco para “pagar menos aos tradutores”. “Como deve calcular, a tradução de uma obra científica que, em princípio, só deveria ser feita por um especialista, tinha de ser paga a peso de ouro. Mas para o editor pagar menos considera-a tradução literária, embora existam excepções”, revela. Depois existem também as traduções técnicas, onde se enquadram as legendas de filmes, noticiários, conferências, teatro ou óperas, que circulam em circuitos específicos. O trabalho encomendado directamente pelo cliente ou pelas empresas de tradução, segundo o presidente da APT, “representa um volume de trabalho muito superior à edição editorial”. Mas tratando-se de uma situação que não é unilateral, Francisco José Magalhães aponta também o dedo aos tradutores considerando-os “os principais culpados pela confusão do mercado”, admitindo também que “existem ‘tradutores’ que não deveriam fazer traduções”.
A desunião da classe também contribuiu para agravar o cenário e ao contrário do que acontece com todos os países membros da União Europeia, onde os tradutores pertencem a uma associação, “aqui a primeira coisa que fazem é não se agruparem. Portanto, é-lhes mais favorável serem ‘patos bravos’, porque também assim podem procriar a sua incompetência anonimamente”, sublinha.

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Ensino modesto
Tradutor há 40 anos, Francisco José Magalhães lembra que quando começou não existiam cursos, mas “havia um bom entendimento entre os editores e os tradutores e a tradução era levada a sério”. Hoje, a tradução “está cheia de toupeiras e, cada ano que passa, a degradação agrava-se”. Aponta o dedo ao ensino, dizendo que, se em Espanha, existem Faculdades de Tradução e de Interpretação, aqui “existem modestos departamentos e a formação sofre com os vícios dos professores de linguística e de literatura. E alguns nem disso”. Com a adesão à Europa, em 1986, “fizeram-se cursos à pressa e convidaram-se para leccionar pessoas de todas as áreas menos da tradução profissional”. Em muitos casos, “os cursos não correspondem às necessidades do mercado e os jovens licenciados acabam por cortar nos preços, chegam a trabalhar de graça e, alguns, não sabem línguas, não percebem o que lêem, não sabem traduzir”.

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Tradutor e intérprete ajuramentado
A profissão de tradutor ajuramentado em Portugal não está regulamentada, ao contrário do que acontece em todos os países membros da União Europeia. Em 1998, Francisco José Magalhães denunciou a inconstitucionalidade junto do ministro da Justiça, o que levou à formação de um grupo de trabalho, constituído pela APT, API, APIC (secção portuguesa), SNATTI, Procuradoria-Geral da República, Serviços Notariais e o Ministério da Justiça, em vista da elaboração do diploma que regulamente a profissão de tradutor (e de intérprete) ajuramentado, ou seja, “aquele que pode certificar em nome do Estado português as traduções que efectua”, explica Francisco José Magalhães, acrescentando que “o diploma já está pronto há dois anos, só falta a assinatura do senhor ministro. Mas parece que ninguém está interessado no assunto”. A manter-se este cenário, o presidente da APT afirma que, por ano, “continuam a perder-se centenas de milhares de euros em traduções de textos jurídicos que não são feitas em Portugal, porque não podem ser reconhecidas oficialmente”. Com a aprovação deste diploma seria preenchido “um vazio constitucional que data de 1933, onde se evoca a figura do tradutor (e do intérprete) oficial e, no entanto, a profissão nunca foi regulamenta”, explica. Para Francisco José Magalhães, a situação ainda é mais grave quando “existem tradutores que são obrigados por lei a colaborar com a justiça, mas que depois não são pagos porque não há dinheiro”. O JANEIRO tentou obter uma resposta junto do Ministério da Justiça, mas até ao fecho da edição não recebeu qualquer explicação.
(23/4/2006)

19.5.07




Problems with Microsoft Word?

Do you have a Microsoft Word problem that is tying you (and your stomach) in knots? Are you about to throw your shoe through your monitor because you can't get Word to act properly?

Believe me...IT'S NOT YOUR FAULT!

Microsoft Word is an incredibly powerful program, but it can be incredibly frustrating. Sometimes it just doesn't work like you expect. And there is nothing more frustrating than being up to your elbows in alligators with deadlines, only to be stopped cold by a word processor that isn't doing what you need.

http://wordtips.vitalnews.com/

Imperdível! O cara publica Word Tips há muitos anos e tem uma coleção incrível de dicas. Se você usa o MS Word, com certeza vai precisar do Allen Wyatt de vez em quando!

17.5.07




Tudo em excesso mata

Escrevi o texto abaixo em 21 de agosto de 2000. Agora o português esquisito já está em todas as bocas, e não só na escrita. É doloroso ver a sintaxe inglesa se infiltrar e enfear tanto o português.

Quem diz que a dose excessiva de inglês não é letal deve achar bonito abrir o caderno de informática do Estadão e ver:

Cuidados devem ser tomados ao desinstalar programas do Windows.

Tem gosto pra tudo! Pode ser que exista gente aí achando bonito e idiomático o enunciado acima. Pois eu acho um horror! Pelo menos a história de Asterix entre os gauleses é engraçadinha. Já um título de matéria jornalística tão horroroso só dá vontade de fechar o jornal e nunca mais voltar a ler. O jornal é brasileiro e a matéria está na seção "Falha Geral", em resposta à carta de um leitor. Era de se esperar que essa resposta fosse escrita em português, pois não? É por aí que vemos um buraco muito mais embaixo do que o simples zelo pelo léxico e pela gramática. O enunciado acima não tem erro ortográfico nem gramatical. Mas parece o Tarzan falando com a Chita! A frase, ao passar por máquina de tradução, vai redondinha para o inglês, bem certinha e bonitinha.

É claro que preciso admitir que não pode haver lei no mundo que acabe com situações como essa, cada vez mais comuns. Estamos os brasileiros escrevendo em formato de máquina de tradução, remando contra a índole da língua, tudo isso em conseqüência da intoxicação de inglês em todos os veículos de comunicação de massa. O que fazer?

Não sou xenófoba e acho que a influência do jazz foi uma maravilha, pois gerou um filhote chamado bossa-nova, que invadiu o mundo inteiro com o nome original: ninguém conseguiu traduzir. Existem tantas palavras intraduzíveis! O livro "Palavras sem Fronteiras" é um verdadeiro tijolaço! Além disso, pela aberração que vemos acima, que já virou praga, dá para perceber que o problema é muito mais grave do que a simples importação de palavras. Posso muito bem usar uma ou outra
palavra estrangeira e ainda assim falar português (quem aqui não gosta de comer um quibe ou um sushi de vez em quando?). Deixo de falar português quando começo a usar palavras do léxico português e amontoá-las em construções esquisitas, desajeitadas, estranhas.
É exatamente o mesmo que escrever "I like of you". Usei palavras em inglês, não usei?
Mas "I like of you" é inglês?
Gimme a breeeeeak! (Me dá um breque?) Os brasileiros estão escrevendo com sotaque de gringo! Que nome dar a isso? Complexo de inferioridade? Exílio dentro de casa? Burrice?

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12.5.07




A nossa espécie tem nome: homem.

Bilhete que escrevi ontem a um amigo:

Não gosto de não ter nome. Por que ser humano? Ser humano não é nome de espécie nenhuma, é uma coisa nojenta que inventaram os politicamente corretos.
O gato é uma espécie e a palavra gato denomina tanto os gatos quanto as gatas.
Idem para cão, tigre, leão, etc. etc. etc. etc. Ninguém diz que cria cães e cadelas, nem que o zoológico tem tigres e tigresas. O que se diz é "fulano cria cães", "o zoológico em tigres" etc. Nunca vi nenhuma tigresa ofendida agitando bandeiras feministas. É de uma burrice muito grande rejeitar o nosso nome genérico, que é homem. O nome da espécie é homo sapiens, e o nome genérico é homem.
É o fim da picada esse politicamente correto tão preconceituoso, muito mais preconceituoso do que nosso modo antigo de falar.

O exemplo que você deu é longo demais: "Estudos experimentais com animais de laboratório e em seres humanos." É uma grande bobagem. Basta dizer que fizeram estudos com homens e outros animais. Nós somos animais e esconder isso é tapar o sol com a peneira. Cientista não pode ser cheio de "não-me-toques" e nhém-nhém-nhem.

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5.5.07




Anglicismo semântico du jour - 5/5/2007

A influência de search for sobre o verbo buscar resultou num aleijão feiíssimo: buscar por. De poucos anos para cá, mais precisamente depois da invenção dos "search engines" na Internet, os brasileiros, despreparados para as novidades e - há muito tempo - sem conhecimentos suficientes do vernáculo, além de sofrer as conseqüências da velha tradição brasileira que acha feio consultar o dicionário, resolveram que o verbo buscar precisa da preposição por só porque o search precisa de for. Tenho, porém, uma péssima notícia para os macaquitos: o verbo buscar não precisa desse por, que, além do mais, é muito feio!

Essa mania ridícula de enfiar preposições inglesas onde não existem está transformando uma das mais belas e ricas línguas em arremedo horroroso do inglês. Enfiar por onde não existe dá dor de ouvido! Quando ouço na TV os colonizadinhos (Jô Soares, por exemplo) americanizando o português, além de sentir dor de ouvido ainda fico com o estômago revoltado.

Vejamos o que diz o dicionário de regência verbal:

BUS.CAR

v.t. 1. Procurar. 2. Investigar; pesquisar. 3. Examinar; revistar. 4. Tratar de obter; tentar. 5. Ambicionar; cobiçar.

REGÊNCIA VERBAL

BUSCAR

TD(I): buscá-lo (em, entre…). Tratar de adquirir, obter, conseguir; tratar de achar, descobrir ou encontrar: "Quem busca trabalho tem comida no borralho" (Provérbio). "Não busques o pão no focinho do cão" (Provérbio). Busquei-o entre os colegas e não (o) achei.

Tratar de trazer ou levar: Manda buscar os livros.

Dirigir-se para: Os rios buscam o mar.

Procurar conhecer; investigar, pesquisar: Buscar a causa de certos fenômenos.

Revistar, esquadrinhar: Buscou a casa toda.

Empenhar-se em, esforçar-se por, procurar: "Buscamos resolver o problema" (Jucá).

Recorrer a, procurar: Buscou a ajuda dos amigos.

Imaginar, idear (maneiras, saídas, etc.); inventar (pretextos, desculpas).

(Dicionário Eletrônico Luft, Editora Ática)

Digam-me, depois de ler o verbete acima, de onde saiu essa praga do buscar por? Exatamente do search for. E os tradutores improvisados que nunca traduziram search for por buscar por, dêem um passo à frente. Como? Ninguém deu um passo à frente? Todos já macaquearam o search for impunemente? E qual é a desculpa? Preguiça mental? Ignorância? Falta de dicionário para consultar?

O excesso de leitura de textos em inglês ou mal traduzidos em português (mais de 90% do que se lê na Internet) ou na literatura de quinta e na imprensa acaba levando aqueles que não conhecem a boa literatura a imitar o que lêem. Num país onde, não sei por que, criaram o tal mito de que é feio consultar dicionários e enciclopédias, também é feio ler bons livros, pois o bom português se tornou constrangedor neste país de analfabetos funcionais.

O pior disso tudo é a agressividade dos que recebem um toque a respeito dessas regências canhestras, que estão transformando a nossa língua em arremedo do inglês. O português e o inglês têm DNA diferente, provêm de troncos distintos e cada uma tem lógica própria, bem diferente da lógica da outra. Forçar a índole do português a ser igual à do inglês é o mesmo que obrigar vacas a voar.

Os colonizadinhos não vêem nada de errado em forçar a barra das regências verbais e impor a elas as regências inglesas, o que dá origem a esses monstrengos como buscar por e todas as outras regências forçadas e feias. Mas esses mesmos tradutores acham muito natural que um verbo transitivo indireto em português (por exemplo, gostar – regência: gostar de) se torne transitivo direto em inglês (like – não existe "to like of"). Será que alguém saberia dizer qual é o motivo dessa lógica perneta? Quando vertem para o inglês os brasileiros se esforçam por não errar na regência, mas quando traduzem do inglês para o português impõem ao português a regência inglesa. Insisto na pergunta: Por que os brasileiros não dizem I like of you? Se não fazem isso, por que dizem buscar por? Dois pesos e duas medidas?

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1.5.07




Dubladores em guerra contra a Disney

Dubladores em guerra contra a Disney

Ministério Público do Trabalho dá parecer favorável a associação e abre investigação

(O Globo, 19/4/2007)

André Miranda

De um lado, o maior estúdio de animação do mundo. Do outro, uma associação que representa 400 profissionais no Brasil.
Corre na Justiça um processo movido pela Associação Nacional dos Artistas de Dublagem (Anad) contra a divisão brasileira da The Walt Disney Company.
A alegação da Anad é de que a Disney não pagaria os direitos devidos e que coagiria os dubladores a assinarem contratos com irregularidades. Em vista disso, o Ministério Público do Trabalho já se manifestou com um parecer favorável à associação e abriu um procedimento para investigar a relação trabalhista de todas as distribuidoras brasileiras com os dubladores.
O estopim para o processo da Anad foram dois contratos que a Disney firmou com o estúdio de dublagem Delart, do Rio de Janeiro, pelos filmes “Bambi II” e “Os Incríveis”. Neles, a Disney exige a cessão total dos direitos de todos os profissionais envolvidos na dublagem para a companhia, uma prática que a legislação trabalhista brasileira proíbe.
O contrato autoriza, ainda, a Disney a ceder os direitos dos dubladores para terceiros. Diz o texto: “Concordo pelo presente instrumento expressamente com todos e quaisquer usos que possam ser feitos dos direitos acima mencionados através de Disney Enterprises, Inc., ou terceiros autorizados, havendo ou não remuneração”.

Dublagens são usadas para todas as mídias

A Delart também assinou um contrato de prestação de serviços com os dubladores em que pede a cessão de direitos. Num desses, firmado em 1ode outubro de 2006 e anexado ao processo, admite-se a irregularidade: “... a empresa DCVI (Disney) e o Estúdio (Delart) reconhecem que, por ocasião da assinatura deste instrumento, as leis trabalhistas brasileiras proibiam a indução da assinatura de documentos de cessão de direitos para atores de dublagem como requerido acima”.
— Estamos investigando a relação entre distribuidoras, estúdios de dublagem e os artistas.
Queremos, num segundo momento, marcar uma audiência coletiva com todos, mas já podemos dizer que há irregularidades.
O que muitos dubladores contam é que eles são coagidos a assinar os contratos pela falta de opções no mercado — explica a procuradora do Trabalho Luciana Tostes.
A dublagem é considerada pela legislação brasileira um direito conexo, por ser anexo a criações intelectuais. Sua proteção também está prevista na Lei 9.610, de 1998, que trata dos direitos autorais. De acordo com a lei, artistas intérpretes devem autorizar e receber pagamento por cada mídia para a qual seu trabalho for reproduzido.
A prática, porém, segundo Sumára Louise, presidente da Anad, é bem diferente. Ela explica que as distribuidoras se utilizam de uma dublagem feita para o cinema, por exemplo, na produção de DVDs ou na veiculação de filmes na TV e até em aviões, sem pagar nada a mais para os artistas. A própria Sumára, depois de 34 anos de profissão e famosa por representar a voz de Meryl Streep e da atriz Cybill Shepherd em “A gata e o rato”, garante que nunca recebeu um centavo pela reprodução de seu trabalho em DVDs.
— Batalha-se
tanto contra a pirataria, e o que eles fazem é piratear a voz dos dubladores sem autorização. Praticamente todas as distribuidoras fazem isso, não é só a Disney — diz ela. — E, quando reclamamos, elas contratam brasileiros morando fora do país para fazer a dublagem.
Daí, surgem trabalhos de péssima qualidade.
Algumas distribuidoras, como a Imagem e a Fox, fecharam acordos com a Anad para o pagamento dos direitos conexos. A associação chegou até a entrar na Justiça com um processo contra a Fox, mas a ação foi removida depois que um protocolo de intenções foi assinado entre as duas partes.
— Não pagávamos direitos para outras mídias porque os estúdios de dublagem não aceitavam assinar contratos. Assim, entendíamos que estávamos negociando um serviço completo para qualquer mídia — explica Elie Wahba, vice-presidente da divisão de televisão da FOX do Brasil. — O que ocorreu agora foi que os dubladores entraram com uma ação sem conversar com a gente. Quando soubemos, entramos em contato e concordamos em pagar um acréscimo caso a dublagem fosse reproduzida em outro lugar.
Já a Disney afirmou, em nota, que “aguarda o resultado final da investigação”. A distribuidora explicou ainda que seu “posicionamento será colocado em audiência, tão logo a empresa for requisitada pelo Ministério Público do Trabalho do Rio”.
Procurado pelo GLOBO, Sérgio de la Riva, um dos sócios da Delart, não retornou as ligações.

Ator pode ter ganhado R$ 100 mil por voz em animação

Um artista de dublagem ganha cerca de R$ 70 por hora. No caso do dublador representar o protagonista, são necessárias, em média, seis horas para se realizar o trabalho. Em algumas produções, os 400 profissionais que atuam no país precisam concorrer com a voz de atores famosos de televisão, que eventualmente são contratados pelas distribuidoras. Fala-se no mercado que um ator de TV recebeu recentemente R$ 100 mil para trabalhar numa animação.
Outro problema é que nem todos os DVDs trazem a opção de dublagem em português.
Marco Antonio Costa
, dublador que representa a voz de George Clooney e associado à Anad, lembra que comprou há poucos dias um DVD com dublagens em francês e espanhol, mas sem versão em português.
— Além
de tudo, temos que enfrentar a força do mercado.
Eu e minha mulher (Lina Rossana, que faz a voz da Olivia Palito) dublávamos a série “Desperate housewives”, para a Delart.
Mas, dias depois de a Anad entrar com a ação, nos ligaram dizendo que o cliente havia pedido para nos trocar. Acabamos sabendo que eles falaram para outros dubladores que, se não saíssem da Anad, estariam fora da série — lamenta Costa.

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